domingo, 20 de setembro de 2009

Para não sentir dor



Para não sofrer eu vou me drogar de outros, eu vou me entupir de elogios, eu vou cheirar outras intenções. Vou encher minha cara de máscaras para não ser meu lado romântico que tanto precisa de um espaço para existir ridiculamente.
Não vou permitir ser ridícula, nem uma lágrima sequer, nem um segundo de olhar perdido no horizonte, nem uma nota triste no meu ouvido. Eu sei o quanto vai ser cansativo correr da dor, o quanto vai ser falso ignorar ela sentada no meu peito.
Mas vou correr até minha última esquina. Vou burlar cada desesperada súplica do meu coração para que eu pare e sofra um pouquinho, um pouquinho que seja para passar.
Suor frio da corrida, sempre com sorriso duro no rosto e o medo de não ser nada daquilo que você me fez sentir que eu era. Muita maquiagem para esconder os buracos de solidão. Muita roupa bonita para esconder a falta de leveza e de certeza do meu caminho.

E por que vendo tanto meu corpo e tão pouco minha alma? Porque quero ver você comprando o que realmente quer e não enganando querer para levar a promoção.

Cansei das promessas de compra e das devoluções gastas do meu corpo. Cansei de expor minha alma se no fim tudo acaba mesmo. Então tá aqui ó: peitinhos, coxas, barriga e o buraco que você tanto quer.
Leve de uma vez e me engane por alguns dias. Você é igual a todos os outros e todos os outros são: lixo. O amor não existe, e, se existe, não dura pra sempre. E, se não dura pra sempre, não é amor. E nada dura pra sempre. E então o amor não existe.
Estou amarga com simplicidade, e isso é relaxante já que vivo cheia de complicações. A amargura é muito mais simples que a esperança. Estou triste do tamanho do buraco sem vida que você deixou em mim, uma concavidade sonhadora que ainda pulsa um desejo que ao mesmo tempo enoja.
Ainda sinto você aqui dentro e toda a energia boa de vida que esta lembrança poderia gerar em mim, mas essa energia sem escape, sem válvula, sem história, essa energia inocentemente transformada em ódio, só carrega ondas que me corroem por dentro.

Mas para não sentir dor eu vou jurar ao último ouvido do meu universo o quanto você é descartável. O quanto sua molecagem não permitiu nenhuma admiração de minha parte.
Para não sofrer não vou permitir minha cabeça no travesseiro antes do cansaço profundo e sem cérebro.
Não vou permitir admirar coisas da natureza porque talvez eu me lembre de você ao ver algo bonito.
Não vou permitir silêncios porque é aí que o meu fundo transborda e a tristeza pode me tomar sem saída. Eu vou continuar deixando a minha cabeça me martelar porque toda essa confusão é ainda menos assustadora do que a calmaria da verdade.
A verdade é a frieza do mundo, é a podridão dos desejos, são as mentiras que a gente inventa para os outros e acaba acreditando. A verdade é que mais cedo ou mais tarde você será traído, porque todo mundo tem medo de viver a entrega. A verdade é que ninguém se entrega porque ninguém se tem. A verdade é que não estamos aqui, estamos em algum lugar seguro vivendo nossas vidas medíocres. A verdade é que todo esse perfume é vergonha de nossa essência, todas essas marcas são vergonha do nosso corpo, todo esse charme despretensioso é vergonha de nossas fraquezas. A verdade é que nada é inteiro porque até o inteiro para ser todo precisa ter seu lado vazio. A verdade é que não dá para fugir da dor, e eu continuo correndo, correndo, correndo e não saindo do mesmo lugar.

(Tati Bernardi)

...eu fui a nocaute!




"Depois de levantar duzentas vezes e ir para o canto do ringue, cuspir sangue e ouvir a torcida dentro do meu coração gritar pedindo mais, eu fui a nocaute."
(Tati Bernardi)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Escrever é um dom



Eu fico aqui lendo os textos dessas mulheres maravilhosas como a Tati Bernardi; a Martha Medeiros; a Fernanda Mello entre tantas outras e fico perguntando a Deus: Por que eu não escrevo assim? Me diga aí se tem coisa mais linda nesse mundo do quê expressar nossos sentimentos em palavras? Pra mim, não tem...
Tem textos que são de uma perfeição sem tamanho, parece que foi pensado palavra por palavra, letra por letra, milimetricamente estruturado mas só parecem mesmo, eles foram escritos de uma forma tão natural, num momento de desespero como um desabafo.

A Fernanda Young disse uma vez:

“É fácil se conformar em não saber pintar, tocar piano, dançar.
Mas escrever deveria ser um sentido humano,
como a visão, audição e os outros todos.
Eu, por exemplo, trocaria minha audição pelo dom da escrita sem pestanejar.
Imagina que glória suprema: conseguir esclarecer os sentimentos e ainda deixá-los escritos.
Não sei bem por quê,
mas eu sempre achei que as coisas escritas são mais eternas
que qualquer outra forma de arquivar, guardar, registrar, mais que a fotografia.”


Eu concordo plenamente com ela, e trocaria minha audição pelo dom da escrita sem pestanejar.
Por enquanto a minha escrita é só um desabafo mesmo mas pretendo continuar escrevendo, não dizem que “a prática leva a perfeição”, vai que um dia um textinho meu se torna perfeito.

(Mariana Fernandes)

Ele...



“Sempre pensei em escrever sobre você para tentar entender a nossa história, na verdade o fim dela. Eu que sempre amei a liberdade, adorava ficar presa a você e a tudo que eu sentia. Tudo que eu mais queria era sua mão ao redor da minha cintura me dizendo que eu era sua.
Eu não queria mais a liberdade, eu só queria ser sua, a sua menina indefesa que precisava de carinho e proteção. Você era tão indiferente ao que eu sentia, ao que eu fazia e falava. Sua sede de liberdade era do tamanho do mundo e me empurrava pra longe de você. Mas eu, garota teimosa, como sempre fui lutava com todas as armas contra ela sem perceber que quanto mais eu insistia, quanto mais eu lutava, mais distante de você eu ficava.”


(Mariana Fernandes)